terça-feira, 8 de janeiro de 2013

entrevista



Folha - Por que a sra. começou a correr?
Marthel von dem Berge - Meu marido era ginasta, mas perdeu um olho e uma mão na Segunda Guerra Mundial e não pôde mais praticar. Então resolvi acompanhá-lo nos treinos que eram possíveis. Ele trabalhava na ferrovia alemã, mas também era muito ativo na preparação de atletas, no treinamento de crianças.
Eu seguia sua orientação. Costumava correr, mas apenas trechos de 10 km, 20 km ou 25 km, porque ninguém na época imaginava que uma mulher fosse capaz de correr a distância de uma maratona.
Por que então resolveu participar da prova?
Encarei isso como um desafio. Eu queria mostrar que eles estavam errados, que as mulheres podiam, sim, completar uma maratona. Mas precisava de um treino especial. Na época, a gente não tinha muita informação sobre preparação para maratonas. Imaginei que eu precisava ser flexível. Então, resolvi praticar outras modalidades do atletismo: 50 metros de corrida, de 2.000 m a 5.000 m de caminhada rápida, arremesso de peso, salto em distância.
Como foi o dia da corrida?
Eu cheguei a Braunlingen na véspera e fiquei hospedada na casa de uma família da cidade. Cheguei, comi, deitei e dormi bastante.
No dia seguinte, fomos logo para a largada, que era numa subida. Homens e mulheres estavam juntos, todos largando na mesma hora e do mesmo lugar. Apesar de ser a mais velha entre as concorrentes, venci. Completei em 4h19min57.
Como se vestiu para correr?
Eu tenho até vergonha de me lembrar das roupas que usava. A qualidade era muito ruim. O tênis que eu usei não poderia ser usado hoje nem sequer para caminhadas. Eu vesti uma calça comprida azul e uma camiseta de mangas compridas. Depois da Segunda Guerra, nós éramos muito pobres. O atletismo era, de todos os esportes, o mais barato. E trazia muita alegria.
Estivesse eu bem ou mal, colocava os tênis e saía para correr, era algo que sempre me deixava satisfeita.
Desde a primeira, quantas maratonas a sra. correu?
Corri até os 60 anos, foram 40 maratonas, uma média de duas por ano. Mas aquela foi minha única vitória, pois logo as maratonas começaram a se popularizar e surgiram mais mulheres, mais jovens, correndo esse tipo de prova.
E o que a sra. passou a fazer depois dos 60 anos?
Tive problemas de saúde. Passei por uma cirurgia no quadril e recebi uma prótese, o que me deixou sem condições de continuar correndo. Quando a gente corre, cada passo é um salto, e isso o meu quadril não suportava mais. Passei a competir fazendo caminhada nórdica. Com a musculatura boa, bem treinada, não sinto dores.
Por que a sra. continua participando de provas?
Isso me traz uma alegria muito grande. Quando, por qualquer razão, eu não posso participar, parece que fica me faltando alguma coisa... Sinto apenas que não tenha mais ninguém para me acompanhar. Meu marido morreu há 30 anos.
Como são seus treinos durante a semana?
Treino caminhada nórdica dia sim, dia não. Além disso, canto em um coral da minha cidade, pratico ginástica e natação. Na quinta-feira, faço faxina no meu apartamento.
Qual o segredo para ter essa energia?
Ficar sempre em movimento, ficar ativo. Já tive muitas alegrias na vida e gosto muito de viver. Vivo feliz mesmo depois da perda de meu marido e de um namorado que tive por 20 anos. Com meu namorado, fiz um curso de dança avançado, costumávamos dançar bastante. Então ele teve câncer, morreu, e eu estou de novo começando do zero.
Pensa em ter um novo namorado?
Sim, claro... Estou no mercado... O problema é que os homens que se aproximam parecem estar procurando não uma namorada, mas uma enfermeira ou uma faxineira. E isso não é para mim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário e participação neste blog de corridas de rua.